10/11/2010

Presidente da SBMicro é entrevistado pelo Jornal Valor Econômico


A construção de uma cadeia produtiva de chips no Brasil e o papel da Ceitec nesse processo dividem opiniões no mercado.

Para Ivair Rodrigues, consultor da IT Data, o Brasil perdeu o momento de expansão do setor na década de 1990 e não tem condição de competir com países como a China, que investe em uma política agressiva de incentivos fiscais para atrair desde fornecedores de insumo até fabricantes.

Segundo Rodrigues, para competir globalmente, uma fábrica de chips exige um aporte de US$ 3 bilhões, e a falta de estrutura logística do Brasil torna o país pouco atrativo para investidores de um setor que apresenta margens cada vez mais reduzidas. “Os chips estão virando commodity. O Brasil deveria concentrar esforços no seu capital humano ao invés de ficar pensando em silício e componentes”, diz o consultor.

Por outro lado, Nilton Morimoto, presidente da Sociedade Brasileira de Microeletrônica, diz acreditar que esse cenário não é irreversível.

“Há dez anos também se dizia que o Brasil tinha perdido o bonde no campo do software, mas hoje o país se destaca nesse setor”, argumenta.

Para Morimoto, a crescente variedade de produtos eletrônicos abre boas oportunidades de nicho para a indústria local. Ele afirma que a Ceitec terá um papel essencial nesse processo e opina que o novo presidente da estatal, Cylon Gonçalves da Silva, seja a pessoa certa para liderar essa iniciativa: “A qualidade mais importante dele é a capacidade de agregar. Se conseguir fazer com que governo, indústria e comunidade científica conversem, o projeto terá chance de vingar.” Sócio-fundador da “design house” [empresa de projetos] Chipus, Murilo Pilon Pessatti destaca que bons resultados já foram conquistados em duas etapas da cadeia, com a criação de casas de projeto e de empresas voltadas à montagem dos chips. Nos últimos cinco anos, o Brasil passou de 7 para 19 “design houses” na área de semicondutores.

Pessatti diz que o foco agora deve ser na fabricação, a etapa mais crítica da cadeia: “Independentemente da burocracia, é a Ceitec que deve dar velocidade ao processo.” Rogério Nunes, diretor-presidente da Smart Modular Technologies, empresa americana que instalou uma fábrica de encapsulamento de chips no país em 2005, com investimento de US$ 35 milhões, opina que o desenvolvimento de projetos na Ceitec é muito lento. “É importante prezar por uma dinâmica de empresa privada para atingir os resultados aos quais ela se propõe”, avalia.

Contudo, ele ressalta que o projeto traz benefícios como a capacitação da mão de obra, tanto no desenvolvimento de chips quanto na manufatura. Segundo ele, esses profissionais poderão ser absorvidos pelas empresas que decidirem investir no país futuramente.

Para Ricardo Felizzola, presidente do conselho de administração da Altus, a estrutura da Ceitec teve influência direta na parceria firmada pela Altus com a sul-coreana Hana Micron, que resultou na criação da HT Micron. Com investimento previsto de US$ 200 milhões nos próximos cinco anos, a HT Micron se dedicará ao encapsulamento de chips e projeta para outubro de 2011 a inauguração da fábrica que está sendo instalada em São Leopoldo, no Rio Grande do Sul.

Felizzola afirma que o impulso para a evolução do mercado local de chips deve necessariamente vir do governo e que a Ceitec passa por problemas inevitáveis justamente pelo fato de ser pioneira.

“A Ceitec é o ‘patinho feio’ que deve existir inicialmente para que se tenha algo concreto, já que a iniciativa privada, por ser imediatista, dificilmente fará o trabalho de desbravar um terreno tão árido”, diz Felizzola. (MD)

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