19/11/2010

Revista Eletrônica TIC Brasil entrevista Presidente da SBMicro


Indústria de semicondutores bate recorde em 2010, mas produção de chip nacional não decola. Especialista acredita que situação é reversível

A SIA (Semiconductor Association Industry) divulgou números referentes a 2010 e previsões para 2011. De acordo com a entidade, que consolida os fabricantes de chips dos EUA, as indústrias devem encerrar 2010 com lucro de 32,8%, cerca de US$ 300,5 bilhões, acima do ano anterior. As previsões da associação estão alinhadas às projeções feitas pela TSMC, empresa tailandesa de semicondutores, que projeta expansão da receita em 5% para 2011. Analistas do IDC acreditam em um crescimento superior ao informado pelas entidades. Por força do mercado para PCs novos munidos de sistemas Windows7 e soluções de armazenamento, eles acreditam em uma expansão na casa dos 7% ou 8 %.

O mercado de PCs e de telefones móveis, junto com as vendas de novos dispositivos, como o iPad, aceleraram a comercialização de processadores em 2010. Mas outros fatores, como a recuperação dos mercados depois da crise desencadeada em 2008, também contribuíram para o atual cenário e para repor os estoques para distribuição.

A indústria brasileira, no entanto, não está acompanhando o ritmo mundial, pelo menos no que se refere à produção de chips. Dados do Ministério da Ciência e tecnologia (MCT) apontam que em 2009 as exportações de semicondutores atingiram R$ 57 milhões, enquanto as importações movimentaram US$ 3,2 bilhões. Mesmo assim, Nilton Morimoto, presidente da Sociedade Brasileira de Microeletrônica, acredita que o Brasil deu um salto nesta área. “A indústria de semicondutores se desenvolveu muito nos últimos anos, graças às ações do MCT para o fortalecimento do setor (Programa CI Brasil, PNM, Centros de Treinamento de projetistas de CIs, criação do CEITEC, etc)”.

“A criação do Ceitec, sem dúvida, é um marco importante para a área de semicondutores, pois é o Ceitec que vai alavancar boa parte da ‘inovação’ na indústria em geral, onde o uso intensivo de soluções de microeletrônica é fundamental em todos os sentidos. Hoje, quase tudo que temos, usamos, sonhamos em ter, possuem um chip ou ainda ‘tudo acaba em chip’”, diz Morimoto.

Mas a principal aposta do governo brasileiro para impulsionar a indústria local de microeletrônica, o Ceitec, já soma R$ 500 milhões de investimentos desde a sua criação em 2008, e ainda não apresentou provas de viabilidade ou capacidade para fabricar e comercializar chips. Além disso, Eduard Weichselbaumer pediu demissão da presidência do Ceitec, em junho deste ano, alegando que a burocracia dificultava o avanço da companhia. Cylon Gonçalves, no comando da empresa desde agosto, disse que as questões burocráticas são um fator de atraso, mas que a burocracia leva a culpa por tudo, mesmo quando o problema é de gestão. E para completar, o cronograma de lançamento da estatal está atrasado.

Nilton Morimoto acredita que a burocracia e problemas de gestão no Ceitec atrasaram o cronograma, pois do ponto de vista técnico, segundo ele, a equipe do Ceitec é bastante competente e com experiência na área. “O Prof. Cylon Gonçalves, certamente, está cuidando para colocar as coisas no seu devido lugar, e experiência para resolver estes problemas ele tem de sobra. Só ele poderá precisar a data de início da produção de chips no Ceitec. Devo lembrar que o Ceitec também possui uma equipe de projetistas de circuitos integrados já bastante atuante na área”, afirma Morimoto. Vale lembrar que Cylon avisou para a imprensa, recentemente, que estabelece o fim de 2011 como uma data para o início da produção dos chips.

Desafio

O desafio, nos próximos anos, reside em construir uma cadeia produtiva de chips no Brasil que seja capaz de competir com países como a China, por exemplo. “O grande desafio é encontrar os nichos de mercado em que o Brasil tem condições de competir. Não precisamos fabricar microprocessadores e/ou memórias de alta complexidade/densidade para entrarmos no mercado de semicondutores. Precisamos sim, ser inovativos, criativos e competentes para desenvolver novos mercados. Mercados estes que aparecem quase todos os dias! Porque o Brasil não poderia competir com a China? Acho que ‘basta’, novamente, sermos criativos e competentes que seremos grandes em todas as áreas”, enfatiza o presidente da Sociedade Brasileira de Microeletrônica.

Projetos

O orçamento previsto para o Ceitec em 2011 é de R$ 80 milhões e entre os planos destacam-se os projetos em desenvolvimento na área de projetos da empresa, inaugurada em 2009, como o chip para a tecnologia de banda larga sem fio WiMAX, com foco no Plano Nacional da Banda Larga. A previsão é de que a iniciativa seja concluída em três anos. Para os representantes da estatal, os projetos ganharão força com o início da produção local.

Ceitec precisa de estratégia de longo prazo

Se existe uma unanimidade em relação à indústria de chip no Brasil é de que há um longo caminho a percorrer, necessitando, portanto, de uma estratégia de longo prazo. “A indústria de chips, tanto na parte de fabricação e encapsulamento como na parte de projetos de CIs, necessita de investimentos constantes em equipamentos e infraestrutura e na formação de profissionais qualificados. Aumentando os investimentos nesta área e incentivando o uso de projetos e equipes de engenharia nacionais o País irá crescer tecnologicamente sem a menor sombra de dúvida”, conclui Morimoto.

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